Podemos treinar as nossas emoções?

A fazer fé no título do livro de A. Cury Treinando a Emoção para Ser Feliz nós podemos accionar as nossas emoções para que elas nos ajudem a revigorar a auto-estima e a relacionarmo-nos melhor com o mundo.
O autor nos esclarece que a emoção "é um campo de energia em contínuo estado de transformação". Quer isto dizer que as emoções são estados psíquicos "que se organizam, se desorganizam e se reorganizam num processo contínuo e inevitável". Tal como estamos sempre com algum tipo de pensamento em nossa mente, também vivenciamos estados emocionais de forma contínua.

Pensamentos e emoções estão sempre sendo produzidos por essa enorme energia que alimenta a nossa vida mental.

A nossa psique é um caleidoscópio virtual onde idéias, pensamentos, imagens, recordações, emoções e sentimentos estão em constante proliferação.

O nosso estado emocional é flutuante. Oscila com maior ou menor profundidade e intensidade em função de múltiplos factores. Misturam-se, por vezes, diferentes tipos de emoções, sobretudo em situações de tensão ou de crise. "Na realidade - escreve A. Cury - o que ocorre na vida de cada ser humano é que a alegria se converte em ansiedade, o prazer em irritabilidade, enfim, as emoções se alternam". E acrescenta: "A emoção passa por inevitáveis ciclos diários".

Os cientistas têm se esforçado, desde há muitos anos, em explicar o que são as emoções. Não tem sido fácil. Mas podemos conhecer algumas ideias:

- N.H.Frijda disse: "as emoções são mecanismos psicológicos destinados a gerar prazer e dor, transformando os estímulos em recompensas e castigos, para gerar expectativas de recompensa/castigo e para determinar e controlar acções".
- J.H.Havilland escreveu: "são experiências, situações e pensamentos que funcionam como elementos aglutinadores do sentimento do nosso Eu".
- Izard propôs: "são motivações que dão significado à nossa existência e que determinam os comportamentos".
As emoções mais antigas na história do Homem são chamadas de primitivas e incluem, por exemplo, o medo. Elas existem também em outros animais e o seu objectivo é claramente o de assegurarem a sobrevivência. No exemplo apresentado, o medo tem por finalidade proteger-nos dos perigos que nos ameaçam.

Percebemos, assim, que as emoções mobilizam as nossas energias. Quando estamos mergulhados numa experiência emocional intensa, o nosso corpo, através do cérebro, sofre várias alterações para que ele se adapte à situação.

É muito interessante verificarmos o seguinte: as emoções manifestam-se através de sensações (fuga, luta, ternura, agressividade, etc.), expressões corporais (rubor facial, lágrimas, músculos tensos, saltos, gritos, etc.) e pensamentos (raciocínios sobre o que estamos a sentir, avaliações cognitivas, etc.).

As emoções também provocam catatimia, isto é, infuenciam as outras actividades psíquicas como a atenção, a memória, etc. Já todos experimentámos situações emocionais intensas que nos deixaram, por momentos, "incapazes de pensar". A verdade é que primeiro sentimos as emoções e depois é que somos capazes de pensar. Elas como que bloqueiam a mente intelectual, sobretudo a partir de uma certa intensidade.

Sendo as emoções "geradas" em zonas antigas do cérebro elas são difíceis de "domar". O auto-controlo emocional é uma tarefa que deve ser objecto de aprendizagem desde os primeiros anos de vida para que nos libertemos da escravidão em que elas nos poderão colocar. É daí que nasceu a ideia de "treinarmos a emoção".

Augusto Cury, em seu jeito poético, dá-nos algumas pistas. Veja:

1º Olhar o mundo através dos olhos dos outros (isto exige que você seja tolerante, entenda o que pode estar por detrás de cada comportamento deles e perceba as diiculdades na perspectiva deles).
2º Aprender a compreender as nossas próprias limitações (precisamos de coragem para tal e sermos humildes o suficiente para vislumbrarmos e analisarmos as nossas deficiências);
3º Valorizar a vida (a sua e a dos outros).
4º Saber perdoar (a maior vingança contra um inimigo é perdoá-lo! Pois, assim, a nossa mente deixa de o ver como inimigo).
5º Falar a linguagem da emoção (abra o seu coração, aprenda a falar dos seus sentimentos, treine ser acessível aos outros).
6º Ter coragem para atravessar desertos existenciais (todos passamos por dificuldades e algumas são imprevisíveis e inevitáveis; temos de meter na cabeça que isso é humano e quem for capaz de atravessar essas etapas da vida com esperança e tolerância fica mais bonito interiormente!).

Termino recordando dois pensamentos de Cury:
"A vida é bela e inexplicável, mas vivê-la é uma arte. Ela nunca é uma reta, mas um caminho cheio de curvas e de obstáculos imprevisíveis". Finalmente: "Pare! Faça uma pausa na sua vida. Tenha a coragem de ser um pequeno aprendiz. Retome alguns caminhos, abra novos atalhos e aprenda a mais básica e legítima lição de treinamento da emoção: recomeçar tudo de novo tantas vezes quantas forem necessárias".
Nelson S Lima